(NG DECOR) - Home Staging & Decoração XXI: Como o design transforma o mercado imobiliário de luxo
Em Portugal, há uma verdade que se mantém no mercado de luxo: o design não inventa uma boa localização, mas pode transformar uma boa casa numa peça única, capaz de atingir o seu valor máximo.
Lisboa, Cascais, Porto e Algarve tornaram-se o palco de um segmento prime cada vez mais sofisticado, onde o design é o argumento decisivo. E a tendência é clara: um projecto assinado por um arquitecto ou designer de renome pode aumentar o preço final entre 25% e 50%.
Mas o que torna o design tão poderoso? E por que motivo a emoção, a luz e a autenticidade passaram a ser o novo código do luxo português?
Emoção como motor da decisão de compra
A compra de um imóvel de luxo raramente é racional, o comprador quer sentir, não apenas ver, que encontrou o espaço certo.
O Consultor Nuno Garrido, especialista em propriedades de luxo, explica:
“No segmento prime, o que faz a diferença é a capacidade de uma casa conquistar à primeira vista, provocar um impacto imediato e justificar um valor que vai para lá dos metros quadrados.”
Essa emoção é, em si mesma, um multiplicador de valor. “Um projecto de arquitectura bem pensado ou uma remodelação de interiores assinada por um nome de prestígio pode aumentar o preço final de venda em 25% a 50%”, sublinha Nuno Garrido. “Por um lado, garante coerência estética e funcional acima da média, pensada ao pormenor e sem necessidade de improvisos. Por outro, transmite confiança ao comprador, que reconhece o valor de uma propriedade diferenciada, concebida por quem realmente sabe potenciar cada metro quadrado.”
Também Rita Bueri e Joana Marques Das, especialistas em imóveis de luxo, reforçam que o design de luxo não se mede pelos acabamentos, mas pela intenção: “O verdadeiro design, no luxo e na vida, deve ser estratégico: cria experiência, valor e activa os quatro sentidos.”
É essa fusão entre emoção e estratégia que transforma um imóvel num investimento sensorial. “No fundo”, resume Joana Marques Dias, “é como uma peça de arte: o que tem assinatura, tem valor.” Ou como explica Pedro Carvalho, arquiteto fundador do atelier IAS (Inception Architects Studio): "criar uma experiência de vida única".
Luz e espaço exterior: os novos elementos de luxo
No centro da experiência de luxo está a luz. "A luz é a actriz principal. Deve ser estudada ao pormenor — como a aproveitar, como a atenuar quando necessário e como criar elementos decorativos que joguem com ela, realçando texturas e criando diferentes ambientes. A luz não é decorativa: é cenografia”, explica Rita Bueri.
A arquiteta Rita Silva, da Architect Your Home, reforça:
A luz natural é um factor determinante: espaços luminosos, com boa orientação solar e vistas abertas, criam uma sensação de bem-estar e exclusividade. A relação entre interior e exterior é outro aspecto fundamental.
No Algarve, esta relação entre o interior e o exterior assume um papel ainda mais marcante. O arquitecto Mário Martins, autor de diversas moradias de luxo na região, sublinha que a valorização do espaço exterior é cada vez mais evidente: “A piscina, jacuzzi, dimensão e qualidade de terraços exteriores e presença do verde são elementos cada vez mais apreciados. Existem ainda argumentos tradicionais de venda, como a cozinha, equipamentos sanitários e domótica. Outros, que deveriam ser determinantes, mas nem sempre considerados, são o conforto térmico, acústico, climatização e baixos custos energéticos.”
"Um dos aspectos mais valorizados é a relação entre o interior e o exterior. As melhores casas são aquelas onde as fronteiras entre ambos praticamente desaparecem", aponta o arquitecto Pedro Carvalho.
Autenticidade e coerência: o novo código do luxo
O luxo contemporâneo deixou de se medir em metros e brilhos para se reconhecer na autenticidade, na coerência e na proporção. Para Rita Bueri, a elegância nasce da harmonia e da verdade dos materiais: “Os materiais devem ter mais do que qualidade: devem contar uma história, criar uma identidade, fugir ao artificial e reconhecer que o toque importa tanto quanto a estética. Tudo isto deve acontecer dentro de uma linguagem harmoniosa. A coerência cria elegância e, na maioria das vezes, less is more.”
O arquitecto Pedro Carrilho explica: "É um mercado que identifica e valoriza, sem dúvida, as materialidades, a qualidade e o detalhe da construção. Valoriza materiais nobres como as madeiras e pedras naturais, assim como opções contemporâneas que atribuam identidade e exclusividade aos espaços.”
"Cada casa de luxo deve ter uma identidade própria. Pode ser um elemento escultórico, um jogo de volumes ou uma reinterpretação moderna de traços tradicionais. Essa singularidade é o que transforma um imóvel em algo verdadeiramente pessoal e irrepetível", reforça Pedro Carvalho que também é perentório sobre a relevância dos materiais escolhidos: "A escolha dos materiais é outro elemento determinante - o uso de materiais locais, de pedra natural, madeiras maciças e acabamentos artesanais confere autenticidade e carácter à habitação. Estes materiais envelhecem com dignidade e contam uma história que vai além da aparência."
A arquitecta Rita Silva acrescenta que a autenticidade e a qualidade espacial são as novas medidas do luxo:
Os elementos de design que mais influenciam a decisão de compra de um imóvel de luxo em Portugal estão intimamente ligados à autenticidade do projecto, à qualidade do espaço e aos acabamentos.
“Os compradores procuram coerência estética e funcional acima da média, pensada ao pormenor e sem necessidade de improvisos”, diz-nos a consultora Joana Marques Dias.
Sustentabilidade: margem para crescer e conforto consistente
"Também a tecnologia e a sustentabilidade assumem um papel importante, mas de forma discreta. O verdadeiro luxo está no conforto silencioso — em soluções de eficiência energética, climatização passiva, painéis solares ou sistemas de domótica que melhoram o dia a dia sem se sobreporem à arquitectura." O ponto de vista de Pedro Carvalho e reforçado por Rita Silva: "Hoje, a eficiência energética e o conforto consciente fazem parte do novo conceito de luxo: o luxo de viver bem, com conforto e responsabilidade.”
Ainda que a sustentabilidade já seja uma exigência crescente, Mário Martins alerta para o caminho que ainda pode ser feito: “Factores que deveriam ser determinantes, mas nem sempre considerados, são o conforto térmico, acústico e climatização e baixos custos energéticos.”
Arquitectura de autor: a assinatura que valoriza
Nos projectos de obra nova de luxo, a assinatura arquitectónica é sinónimo de confiança. Em Lisboa, Cascais ou Porto, tornou-se impensável lançar um empreendimento prime sem um nome de referência.
A presença de um arquitecto consagrado garante mais do que estética: assegura qualidade construtiva, coerência e uma marca de distinção. Nas palavras do arquiteto Pedro Carvalho:
Representa um pensamento, uma visão e uma narrativa coerente que unem todas as decisões de projecto. O arquitecto actua como intérprete das aspirações e do estilo de vida do cliente, traduzindo-os num espaço feito à medida, onde cada detalhe tem propósito.
Essa autoria dá à casa uma dimensão cultural e artística. Mais do que um bem imobiliário, torna-se uma peça de design, com identidade própria e relevância no seu contexto. É essa combinação entre técnica, sensibilidade e visão que transforma uma casa num património pessoal — algo com alma, que perdura no tempo e mantém o seu valor.
Mas a assinatura, sublinha, não é apenas estética, é empatia e adaptação: “Arquitectura com assinatura é entender as necessidades do cliente e criar algo perfeitamente adaptado ao programa e ao lugar. Desenhar espaços que criem organização, funcionalidade e vivência. Esse trabalho criativo e rigoroso de um profissional pode oferecer, de facto, um valor acrescentado a qualquer imóvel.”
Ainda assim, Mário Martins alerta para um risco crescente no setor: “Não é a assinatura que traz necessariamente qualidade. Infelizmente, cada vez mais se procura um nome sonante para realizar um estudo prévio que sirva para vender melhor e mais caro. O que deveria ser importante é a qualidade arquitectónica, e não apenas a assinatura.”
“No fundo”, acrescenta Joana Marques Dias, “como uma peça de arte: o que tem assinatura de autor, tem identidade e valor.”
Branded residences: o luxo com selo internacional
No topo da pirâmide, cresce o fenómeno das branded residences, residências associadas a marcas de hotelaria de luxo como Hyatt, Six Senses ou Mandarin Oriental.
Para o comprador internacional, estas propriedades oferecem a garantia de qualidade e um estilo de vida com serviços exclusivos: concierge, spa, segurança e assistência personalizada.
Na prática, um apartamento com selo de marca pode valer entre 20% e 25% mais do que um imóvel idêntico sem essa chancela. O valor está não apenas nos acabamentos, mas na promessa da marca e na coerência estética do design, pensada até ao último detalhe.
José Cardoso Botelho, founder da The Mark Properties explica: "As amenities — como ginásios, piscinas, salas de convívio ou coworking — também são cada vez mais valorizadas, especialmente quando integradas com elegância e coerência no projecto. Elementos como a sinalética e a marca do edifício são detalhes que, embora subtis, reforçam a sofisticação e o posicionamento do imóvel."
Design na reabilitação: o factor que acelera a venda
Mas o design não é exclusivo da construção nova. No mercado de segunda mão, é ele que devolve alma, acelera vendas e multiplica o valor percebido.
Empresas de remodelação de luxo em Lisboa ou Cascais perceberam que um projecto de interiores assinado não só eleva o preço de venda como reduz o tempo no mercado.
Um estudo recente sobre imóveis prime em Lisboa quantifica o impacto:
* Uma remodelação pode valorizar um imóvel em +25%;
* O mobiliário acrescenta em média +10%;
* A assinatura de um designer de prestígio pode aumentar o valor em +15%.
* No total, o preço pode subir até 50%, passando de 10.000 €/m² para mais de 15.000 €/m².
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